Este blog fez birra e resolveu fechar portas. É favor espreitar o outro, que é capaz de ser mais giro... ou não.. :)
Entre a negritude e a luz, eu escolho a segunda; entre o breu e a claridade;
porque sei sempre que sou capaz de andar lá fora sem precisar de óculos de sol . Tenho-me e isso basta. Dispenso acessórios.
É certo que a vida dá muitas voltas. Outras vezes há em que parece não acontecer nada; mas a nossa cabeça não cessa de inventar novos corropios, novos devaneios, descobrir novas perspectivas. Assim é a essência do ser humano.
É verdade que nos preocupamos demais com o que, às vezes, não tem importância nenhuma. Muita da grandeza que atribuímos às coisas que afinal são pequenas vem dos olhos de como os outros as vêem. Deixamo-nos contagiar. Entramos no rebanho. E quando nos dispomos a parar do frenesim habitual, certas vezes percebemos que bastam coisas simples para sermos felizes.
Há pessoas que têm um talento inacto para não parar de falar ... e não dizer nada. Conversa de pescadinha de rabo na boca, chamo-lhe eu. E o pior é que não raras vezes temos de ficar assim:
Quando, na realidade, só nos apetece fazer isto:
Sempre gostei de rotinas porque me habituei a que as quebras ao dia-a-dia fossem por maus motivos. Por isso, qualquer alteração nem sempre é bem-vinda. Ainda mais quando não é planeada por mim, quando o susto vem sem avisar. Aí, fico desnorteada.
Desta vez foi pior, bem pior. Perdi mesmo o rumo e tive muito medo. Mas não há-de ser nada.Lá ao fundo há uma luzinha acesa, uma porta que se abre à nova vida. Há-de tudo correr bem, com um bocadinho de sorte e se Deus quiser.
Nunca gostei muito de multidões. Sempre pensei sofrer de algum tipo de fobia, aliás. Andar sozinha pelo centro comercial, particularmente no final da adolescência era um suplício. Ainda hoje não é actividade que se me afigure divertida. Não gostava da maior parte dos olhares dos outros; gostava pouco de ver quem passa. Estou diferente. Sou tímida, mas tolero as folhas verdes iguais que me rodeiam e sou capaz de sorrir para elas. Lamentavelmente ou talvez não, continuo a achar-me um achado pluricromático no meio da monotonia.
A magnólia branca do meu jardim foi das primeiras ofertas que fiz questão de comprar ao meu jardim, apesar do preço. Veio ainda tenra, e não fosse a rede que a envolve ainda actualmente, a fera canina não a teria deixado crescer até ao estado de adolescente em que se encontra agora. Gosto de olhá-la, todos os dias quando saio e quando chego, a ver se há novidades. Ainda mais agora que o sol dá um ar da sua graça e lhe permite a floração. Mas vá se lá compreender, eu fui fotografá-la à noite.
( A foto não é minha, confesso, mas enquanto não se puder tirar fotografias e conduzir ao mesmo tempo- ou o tempo ocupado o não permitir- vai ficar esta, com promessa de uma minha, bem mais gira....)
Quando vi esta árvore, assustei-me, tal a proporção das raízes. O chão rebenta, há rachas à volta; o tempo fez das suas.
Andamos na vida a criar raízes, a tentar que a nossa passagem por cá não seja em vão. Às vezes deixamos marcas pequeninas, invisíveis aos olhares desatentos, outras fazemos grande alarido do que é nosso. Já plantei a árvore, porém ainda não escrevi o livro.
A minha barriga ainda mal se vê; esta raíz que carrego vai deixar as suas marcas. Boas, com certeza.
Às vezes, ao fim de semana, regresso àquele lugar, onde novas raízes foram plantadas, por afinidade. Gosto daquele muro, particularmente nos dias de sol, quando para lá vamos deixar os raios fazerem-nos cócegas no corpo. Sabe bem fugir ao frio, que é maior dentro de casa.
Aquela muralha é um lugar de culto. É onde o gato se estende e onde o avô apanha as folhas com a paciência da idade, ou troca dois dedos de conversa com os amigos de infÂncia, esquecidos da vida, a caminho do lar.
E daquele lugar, transpondo a barreira, estende-se um arvoredo que só a civilização e o betume pode matar.
A maior parte das vezes, a espera é desagradável, incómoda, angustiante. Desesperamos com quem se atrasa, quem sai de casa à hora de estar no local combinado. Fazemos orelhas moucas às desculpas habituais e andamos em frente, sem remédio. Outras esperas são agradáveis. Às vezes, não sabemos bem o que esperamos, mas mal podemos conter-nos para que o momento por que aguardámos chegue, finalmente.
" Um dia, em miúdo, ao fim da tarde, achávamo-nos na quinta e um bando de pássaros levantou voo do castanheiro do poço na direcção da mancha da mata , azulada pelo início da noite. As asas batiam num ruído de folhas agitadas pelo vento, folhas miúdas , fininhas, multiplas, de dicionários, eu estava de mão dada contigo e pedi-te de repente. Explica-me os pássaros. Assim sem mais nada. Explica-me os pássaros, um pedido embaraçoso para um homem de negócios. Mas tu sorriste e disseste-me que os ossos deles eram feitos de espuma da praia , que se alimentavam das migalhas do vento e que quando morriam flutuavam de costas no ar, de olhos fechados como as velhas na comunhão"
António Lobo Antunes
Há quem faça promessas, jure e garanta. Eu apenas espero, no novo ano, continuar como sempre fui, sem devaneios, histerismos ou loucuras desmedidas. Não farei dieta, não jogarei mais do que esporadicamente no totoloto, não adoptarei um novo estilo.Não sairei de mim. E caminharei sempre por onde o meu caminho me levar. Eu acho que me leva sempre em frente; pelo menos, as curvas que têm aparecido têm sido (mais ou menos) contornáveis. Oxala o piso me permita continuar assim na corrida!
"O sol é uma lâmpada nas nuvens que se apaga e acende todos os dias "
Paul Auster ( in Timbuktu)
E se nada nem ninguém interrompesse a nossa caminhada como estes lâmpiões intrometidos na minha fotografia, talvez pudessemos ser felizes todos os dias.
E se, para o novo ano, puséssemos as tristezas e as más recordações a secar ? Podia ser que, enxutas e renovadas, digeridas e ultrapassadas, se transformassem em memórias doces daqulo que já lá vai, que passaremos a guardar na gaveta juntamente com as novas vivências, que são as experiências novas de todos os dias....
Os dias que passam são bem-me-queres ou mal-me-queres. Cada dia é uma surpresa. Acordar com um mau humor terrível acontece , tal como aqueles dias em que a vida parece maravilhosa. Na primeira situação, dá-me para dizer a verdade a torto e a direito, do género do "Mentiroso Compulsivo" que certo dia só conseguiu dizer verdades. Mas fazer isto cai mal em muitos ouvidos. Na segunda, ponho-me a tirar fotografias como esta. Há dias felizes.
Eu queria um cão sossegadinho, bem comportado, que me fizesse companhia nos momentos de solidão em casa, aninhadinho no seu canto. Saiu-me um bicho cheio de vida, uma personalidade forte, um misto de canguro e coelho, um roedor saltitante que se diverte a descobrir entreténs novos no jardim a cada dia que passa.
Bem vistas as coisas, o que eu queria era um bibelot para enfeitar. Em vez disso, tenho um companheiro que vai aprendendo paulatinamente boas-maneiras e percebendo quem manda em casa.
Afinal, quem vê caras, ou focinhos, não vê corações.
Está um frio insuportável, mas de que eu gosto. O nariz fica vermelho, o que não é nada abonatório para quem tem o nariz como o meu.... As mãos gelam e não faço ideia onde pus as luvas. Sabe-me bem o cabelo comprido no pescoço e a gola do casaco levantado. Camisolas de gola alta é que não! Tudo se queixa e liga o aquecedor. Depois vem outro e desliga até que o próximo a entrar carrega de novo no botão. A dança do frio.
A maior parte das flores do meu jardim está num estado caduco, infeliz. .
Apesar das intempéries, há flores e pessoas que resistem e mantêm a essência original.
A minha lareira arde a todo o vapor; aquece a casa toda e sente-se o trajecto do quente a subir as escadas para se espalhar pelos quartos. Está imparável, forte, pujante.
O fogo cá de dentro, em alturas de revolta, também tem os seus momentos de combustão, embora não se manifeste desta forma tão exuberante. Não raras vezes, fico caladinha, a fervilhar por dentro e só expludo quando já não era tempo, uma porta de abertura retardada. Há quem lhe chame cobardia; eu chamo-lhe bom senso e falta de jeito.
No Outono, as folhas ficam cor de fogo, perde-se a vivacidade das cores, dos arco-íris das flores, adormece a Primavera, parece preparar-se para a vitória do frio; mas não, preparam-se é para o que lá vem em Março, a festa das aguarelas e da Natureza. Há pessoas que passam a vida em fogo esmorecido, uma vezes Inverno, outras Outono e nunca deixam entrar a luz do sol.
Já gostei mais do frio do que agora. Na vida, prefiro o clima ameno, suave, sem exageros nem para um lado, nem para o outro. Nem amarelo vivo, nem rosa choque, nem cinza ou azul escuro; hesito entre o verde e o cor de-rosa, o branco sujo e o lilás. Gosto de cores vivas; porém nem sempre me revejo nelas.
O melhor dos amigos é poder brincar, dizer disparates a torto e a direito e não receber em troca um olhar reprovador, um abanar de cabeça com um misto de pena pela coitadinha que não sabe o que diz.. Fazer trocadilhos banais ou iluminados, em dias de maior propensão para o absurdo, e rir muito, mesmo que o sumo seja pouco. Estamos à vontade, não temos de fingir. E se é raro encontrá-los, mais raro é conseguir conservá-los....
Este compincha da foto não tinha amigos em redor. "Quem não tem cão, caça com gato" e a bola serviu-lhe de igual forma. O que ele se divertiu, revirando-se de pernas para o ar, mordiscando o brinquedo; depois uma perna para cima e um mergulho, uma corrida de urso atrás da bola para a direita, outra perna para o ar, um repuxo de água e um "ahh" dos espectadores. Não sou adepta de Jardins Zoológicos, mas confesso que este brincalhão me encheu a vista... e a máquina fotográfica, já agora!
Lá calha, certas vezes, não ter vontade para nada. Fico assim sem reacção, o cérebro congela e fico farta de tudo; bem, ou quase tudo. A minha cara não disfarça e passo o dia a ouvir perguntar: " O que tens?" " A stora hoje...."
A meio do dia, estou farta de aturar miúdos, os mesmos disparates, as perguntas costumeiras de quem não ouve nada do que se diz. "Meninos , o sol é amarelo.! " Stora, de que cor é o sol??" É uma metáfora, claro, mas representa bem certas idiotices que eles perguntam.
Se eu me esconder, talvez ninguém se meta comigo e ninguém leve uma resposta torta. Ou talvez não. Não dá para esconder. Precisam de mim. Vá, disfarça lá um bocadinho. Afinal , não é só o poeta que é um fingidor.
( Nota do autor: É oficial- não é possível deixar de falar da escola, dos alunos. Está-me no sangue. É a minha vida, neste momento....)
Viver à espera que os sonhos se realizem dá mais alegria à vida. Há quem lute por eles de forma exagerada. (Pode considerar-se exagerado lutar pelos sonhos?!) Outros há que se acomodam à espera que a vida lhes traga os sonhos de bandeja. Não sei bem em que categoria me encaixo. Se, por um lado, vou-os procurando, tomando decisões aqui e ali, por outro, às vezes, cruzo os braços à espera que a vida me surpreenda com Euromilhões, por exemplo. Sou zebra. E assim vou pela vida como a hera pela corda, ora contornando obstáculos, ora virando onde muito bem me apetece.
( Nota do autor: zebra: indivíduo híbrido, nem preto nem branco; cinzento, às riscas, listado. Na vida, não acredita só nisto ou naquilo; há excepções à regra, há contextos a ser tomados em conta. Um zebra não segue radicalismos. É calmo e ponderado.)
Cubículos, caixinhas de fósforos, as nossas casas vistas do céu.
E tantas vezes, poder simplesmente estar sossegado em casa é o nosso céu.
Gosto de rir, subtilmente, de boca aberta, um risinho disfarçado ou uma gargalhada franca; também gosto de fazer rir, ainda que não tenha piada nenhuma a contar anedotas ou outras histórias. Os miúdos dizem que sou bem-disposta, que as aulas são melhores assim e sou-o de facto, ainda que, às vezes, se queixem que as algumas tiradas minhas são "piadas secas".
Como convém, não ando por ali a dizer disparates a toda a hora; estou calada e ataco na altura certa. Um tiro certeiro e adequado. Social e profissionalmente, sou silenciosa, mas acutilante, embora seja bem verdade que já fiz menos barulho e que já tive bem mais vontade de rir.
( Bronx Zoo)
Não gosto de predadores, em todos os sentidos. Circundam a presa, observam bem, estudam-na e atacam sem piedade com movimentos bruscos. Conheço alguns predadores onde me movimento. Mas, se a águia, por exemplo, mata para comer, não percebo o que ganham esses meia-leca de rapina, bichinhos insignificantes e medonhos que debicam os outros e nem matam nem deixam viver. Moem apenas, ferem.
Deve ser um novo divertimento da sociedade dos tempos que correm. Eu prefiro jogar cartas ou "Ligretto!"
(Fotografia tirada a uma pintura no National Histoy Museum.)
Foi no Zoo de Bronx que vi este belo cenário, com a escassa distância que o vidro permite. A família toda reunida a dormir uma soneca ao sol. Mesmo ternurentos, alheios a olhares indiscretos.
Gosto de poder voltar sempre a casa dos meus pais. Voltar ao quarto que foi meu, à minha lareira, ao meu sofá. Gosto de mexer nos tachos que eu já queimei, de observar as estantes que fui ajudando a encher. Gosto que os cães me recebam sempre em euforia quando me sentem nas escadas, que me peçam festas, dento de casa, às escondidas do meu pai em fúria. Gosto de abrir o frigorífico , sempre à procura de surpresas, como dantes. Gosto do jardim repleto de espécies diferentes e do pinheiro que a minha irmã plantou.Está gigante! Mas acima de tudo, para além das coisas físicas e aparentemente frias e sem vida, gosto da família que é a minha, cheia de virtudes e alguns defeitos. Gosto de voltar sempre a eles no fim dos dias e partilhar as curtas_metragens do dia-a-dia. A minha família é a minha. Pertencem-me e eu a eles. Dou e exijo numa troca às vezes estranha. É a eles que volto, sempre que o aconchego se impõe. A família vai aumentando, mas tudo fica na mesma. Receber o mimo de quem nos quer bem faz bem à alma. À nossa e à deles.
Aprendi com o National Geographic em miúda que um fotográfo (ou realizador de documentários) tem de ser realmente paciente. Esperar pelo momento certo para carregar no botão, fazê-lo várias vezes à espera de que uma capte o momento. Esperar, desesperar, suportando as adversidades. Para tirar esta "face to face" desperdicei imensas fotos, com rabos felpudos, pedaços de tronco mal focados a inundarem a memória da máquina. Tinha todo o tempo do mundo, no interregno da vida que são as férias. A certa altura, decidi seduzir os esquilos, como se de um cão se tratasse. Corria para um lado e para o outro, talvez divertindo-se com a minha impaciência. Mas não desisti e venci a batalha. Claro, ser paciente é uma virtude e preciso bem dela na minha actividade profissional. Sou calma e isso dá-me um gozo tremendo.
Poucas vezes, conseguimos atingir um estado tão despojado de preocupações que voltamos à infância, ao tempo que perdíamos a contar os degraus das escadas rolantes nos centros comerciais, ou quando nos punhamos a contar quantos carros vermelhos passavam em frente da nossa porta. Ao domingo de manhã, especialmente nos solarengos e quando vamos à praia, sinto-me assim. Tão vazia de conteúdo, mas leve como uma pena. Sabe bem andar por ali a contar os pinos de madeira que seguram as dunas , sentir o sol na cara e o vento nos cabelos.
Às vezes dou por mim a comportar-me como uma espia. Mostro-me, mas não me demonstro muitas vezes. Olho, observo muito e calo. Reflicto, analiso e decido à distância. Dizem-me que não consigo disfarçar grande coisa. Fico louquinha com a felicidade e completamente tensa com o absurdo e a injustiça. Por isso, certas vezes descobrem-me a careca. Sou completamente incompetente na arte de ser opaca. Visto transparente e não sei se isso tem muita piada.
(Foto tirada em Miramar)
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